Em um tempo não muito distante, era fácil saber o que você encontraria no cardápio de qualquer festival: lanches, pipoca, pizza, algum petisco típico do lugar – como pastel em São Paulo – e cerveja, que se limitava à patrocinadora do evento.

Mas esse menu ficou para trás. Agora, o comum é encontrarmos opções diversificadas para a alimentação em festivais. Não exatamente porque o cardápio simplesmente expandiu, mas porque os produtores passaram a entender esse ponto como mais um tipo de experiência a ser oferecida ao público: a gastronômica (ou “a gourmetização da praça de alimentação”).

Podemos dizer que esse olhar para a gastronomia como uma experiência a ser explorada seguiu uma tendência mundial de valorização à cozinha, como vemos com os inúmeros programas de culinária no estilo MasterChef, os blogs e vlogs de gastronomia e o famoso “raio gourmet” que conhecemos: o bolinho virou cupcake. O picolé, paleta mexicana. A Tapioca, “tapi”. E por aí vai!

A gastronomia virou moda, e nada mais justo que aproveitar esse momento para mexer no cardápio servido nos festivais.

Diferentes experiências gastronômicas oferecidas em festivais

Para mostrar um pouco do que rola gastronomicamente nos festivais espalhados pelo mundo, selecionamos algumas dessas experiências que mostram como é possível explorar esse tópico de formas criativas e diferenciadas.

No Brasil, por exemplo, o Lollapalooza, em São Paulo foi o primeiro a trazer novas experiências gastronômicas ao público. Em 2015, segunda edição do festival no país, o festival inaugurou o espaço Chef Stage, uma praça de alimentação com pratos assinados por chefs famosos.

Além da assinatura dos chefes (estampadas no alto de cada “barraquinha”), o grande diferencial dessa oferta era a possibilidade de comer “comida de verdade” durante o festival – um risoto, uma lasanha ou um belo prato de paella em vez de um hot dog (nada contra os hot dogs, viu?).

No mesmo ano, o Lolla também espalhou ao longo do Autódromo de Interlagos uma série de food trucks. Fizemos uma pesquisa durante o festival e um de nossos entrevistados resumiu a experiência: “Muito bacana vir num festival e encontrar um lineup de comidas.”

É isso! Um lineup de comidas! Como poderia não dar certo?

O Tomorrowland Brasil também foi outro festival que apostou em levar ao público a experiência gastronômica de um menu gourmet assinado por um chef famoso, no caso, um holandês premiado pelo Guia Michelin.

Já o Tomorrowland na Bélgica explora os diferentes sabores da culinária mundial em suas opções ao público. Nada mais justo, uma vez que o festival é o maior em música eletrônica e recebe pessoas de todos os lugares do planeta.

Assim, um dos espaços mais legais do Tomorrowland belga é o Tastes of The World Restaurant. Com a proposta de uma jornada culinária em torno do planeta com os sabores do mundo, todos os dias, o chef vencedor do concurso “Tastes of The World” surpreende o público com um cardápio inspirado em sua experiência culinária.

Outra grande sacada do Tomorrowland é o B-Eat, onde um DJ e um Chef trabalham juntos para criar uma experiência que estimule todos os seus sentidos. Incrível!

Experiências gastronômicas VIP

Experiências gastronômicas diferenciadas também podem ser oferecidas de forma VIP, ou seja, como um diferencial para quem deseja curtir o evento de um jeito mais exclusivo.

No Sónar, em Barcelona, um dos grandes benefícios da área VIP é a presença da alta gastronomia no evento. Até então, o festival catalão sempre foi reconhecido por apostar todas as suas fichas em uma curadoria artística impecável. Comidas e experiências diferenciadas nunca foram seu forte.

experiências gastronômicas Foto: Divulgação

 

Mas a aposta deu certo! A produção convida chefs premiados pelo Guia Michellin, cada um responsável por um dia do festival. Eles criam dois menus exclusivos, consistindo em uma entrada, um prato principal e uma sobremesa, além de um “fast menu”, ou seja, um sanduíche gourmet. Mas só para quem comprou o ingresso VIP.

O Coachella também aposta em uma variedade maior de experiências gastronômicas para o público VIP: das 45 marcas de restaurantes, fast foods, docerias, lojas de sucos etc presentes no festival em 2017, 32 delas estavam disponíveis somente na área VIP.

E essas experiências são das mais variadas, desde “Coconut Ice creams de nitrogênio” até “Sweet Comforts”, panquecas artsy. Afinal, “a gente não quer só comida, a gente quer bebida, diversão e arte”.

experiências gastronômicas Foto: Divulgação

Um brinde diferente

As bebidas também fazem parte das experiências gastronômicas e, por isso mesmo, hoje deixam de ser uma única opção de cerveja nos festivais.

Além das cervejas artesanais (quase todo festival hoje conta ou deveria contar com pelo menos um quiosque de cerveja artesanal), há opções de outras bebidas, como o vinho, que recentemente chegou até a edição do Rock in Rio Lisboa e que também já marca presença há alguns anos no Coquetel Molotov em Recife.

No Wilderness Festival, no Reino Unido, além de atrações de peso no lineup, é possível participar de verdadeiros banquetes, degustações de bebidas e outras atividades gastronômicas como workshops e aulas de culinária.

experiências gastronômicas Foto: Divulgação

 

A harmonização entre comida e bebida é mais um diferencial para o público, mas também um fator que abre portas para outras marcas e empresas dentro do festival.

Experiências necessárias

Não podemos esquecer que algumas adaptações das experiências gastronômicas em festivais não são apenas conceito, mas sim necessárias. É o caso da oferta de opções vegetarianas e veganas.

Com um número cada vez maior de pessoas optando por esses estilos de vida, é praticamente uma obrigação dos festivais (e de qualquer evento) pensar em um cardápio que inclui opções para essas dietas. E quando falamos em opções, nos referimos a um prato realmente pensado como vegetariano o vegano, e não apenas o famoso “mas então tira a carne, por favor”.

Festivais como o DGTL, que nasceu em Amsterdã e hoje acontece em outros lugares do mundo, como São Paulo, é um exemplo de evento que pensa em outras dietas e oferece opções específicas ao público.

experiências gastronômicas Foto: Divulgação

 

No caso do DGTL, o festival vai além, e chegou a abolir a venda de pratos com carne no evento, em prol da sustentabilidade.

Afinal, um bom festival é aquele que aposta na diversidade do seu público. E já foi o tempo do cachorro quente “dogão”, hamburger e pizza. Concorda?