No contexto de agora, teatros, atores e produtores precisam se adaptar e criar novas alternativas para poderem permanecer ativos, mesmo em um momento de isolamento social. Mas, como conciliar as necessidades do Teatro à nova realidade do streaming e dos eventos online?

Trouxemos essa discussão para o Symplifique na Rede #Teatro, criado para unir pessoas, ideias e experiências sobre o mercado de eventos e seus desafios. Dessa vez, o Symplifique – totalmente online – contou com a participação ilustre da especialista em teatro Kátia Latufe, da diretora e cineasta Monique Gardenberg, do ator e diretor Elias Andreato e do ator e dramaturgo Ivam Cabral.

O que foi possível aprender nesses 90 dias em que nossas realidades mudaram? Confira os principais aprendizados e discussões compartilhadas no Symplifique na Rede:

1. Momento de disruptura

Para Kátia Latufe, o momento não pede desespero, e sim criatividade. “O teatro acompanha a evolução da humanidade. Cada novo canal de comunicação que surge, ouve-se que o teatro não vai sobreviver, mas o teatro sempre se ressignifica. Mais uma vez estamos passando por esse momento, em seu grande desafio de afetar as pessoas. E o momento nos obriga a uma disruptura”.

Muitas experiências de peças de teatro online vêm sendo realizadas. Aqui, é fundamental que artistas, produtores e diretores ouçam o público para entender o que (e como) ele está buscando consumir neste momento.

2. Streaming como oportunidade

As ferramentas de streaming podem ser uma oportunidade de levar o teatro ainda mais longe, para pessoas que normalmente não frequentam as salas de apresentações. O teatro ganha uma nova possibilidade de se representar. Para Elias Andreato, não é hora de pensar se o teatro online é um formato definitivo ou não, mas de experimentar essa realidade:

“É uma possibilidade de alcançar caminhos. É essencial que os atores se abram para isso, essa forma criativa é importante para todos os profissionais neste momento. Tenho experimentado e tem sido prazeroso. O teatro presencial é essencial, mas o teatro online é um caminho que temos que discutir e buscar qualidade. Nosso papel é esse: não importa como posso chegar até você, se é aqui [no online], no cinema ou no presencial, precisamos nos comunicar, espelhar a humanidade e alimentá-la.”

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3. O teatro mais visível

O teatro presencial, como nós conhecemos, é insubstituível. Mas o teatro online tem trazido possibilidades e uma grande visibilidade para artistas e para a própria cultura – um efeito que jamais foi pensado por Ivam Cabral quando o artista começou os ensaios digitais dos Satyros:

“O teatro sempre esteve nas ruas, nos shoppings, nas escolas, e agora também está na internet, e estamos vivendo coisas inimagináveis. No nosso teatro na Praça Roosevelt (SP), nós recebemos em média 80 pessoas nos assistindo. Aqui [no evento da Sympla], foram comprados mais de 560 ingressos, mas quando as pessoas abrem as câmeras para nos saudar, tinham na verdade 2, 3 pessoas nos assistindo em cada casa. Agora nós podemos estar nas nuvens. Fomos vistos pelo Brasil inteiro e pessoas da Europa. Isso jamais seria possível no presencial.”

4. As experiências híbridas como futuro

Já imaginou uma peça de teatro presencial, com venda de ingressos online e transmissão em tempo real para vários lugares do mundo, conectando pessoas que não podem estar no local fisicamente? Essa é mais uma das possibilidades que o momento atual tem mostrado aos produtores do setor cultural. Segundo Ivan, “Inauguramos um espaço para explorar a partir de agora. As pessoas estavam pensando na experiência das peças gravadas, mas a experiência em tempo real vale muito para que a essência do teatro se mantenha e as pessoas se emocionem.”

Para Monique Gardenberg, a experiência atual do teatro e da arte com a tecnologia também tem trazido sintonia. “Nossa angústia e necessidade de manifestação busca a arte. O teatro e a plateia não têm substituição; é incomparável. Mas, neste momento, houve comunhão e imersão. E acho lindo ver essas coisas nascendo, pois é algo novo que vai possibilitar viver as duas experiências.”

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5. A produção do teatro online

Tanto Monique quanto Elias desenvolveram novas maneiras de atuar e dirigir especialmente para o formato online. Afinal, é uma linguagem diferente, em que o público receberá o conteúdo de forma diferente do presencial.

“Preparei este trabalho especialmente para essa linguagem, chamei amigos pelo Zoom para mostrar. Acrescento música e aprimoro sempre, e isso me ocupa a cabeça no sentido artístico e me motivada. Tem gente que fica para o bate-papo pós-apresentação e comenta sobre essa possibilidade de mostrar a peça para pessoas que jamais assistiriam, porque viajar com o teatro é muito difícil. E poder conversar com quem viu e como isso chega para cada um é maravilhoso – e há 6 meses eu jamais imaginaria. Cada artista vai descobrir a sua forma, seu estímulo e sua estética”, conta Elias.

Para Monique, essa tem sido uma experiência de perder o controle. “É uma direção repartida, de pedir o ator para atuar e filmar. Muitos vêm com suas próprias visões. Eu mesma tive inspirações dentro da minha própria casa. É uma direção conjunta.”

Para Ivan, explorar os recursos que os eventos online oferecem é fundamental para fazer o teatro online. “O Zoom tem muitos recursos que podemos explorar para pensar o teatro de uma forma imersiva. Usar as tecnologias de uma forma diferente e criar com elas algo novo, ao vivo, montar novos planos sequência, fazer algo que só nas lives não é possível. Isso é o teatro digital.”

O teatro não pode parar – e que seja digital, nas telas dos computadores e celulares, enquanto for preciso. Vamos juntos? :)