Conseguir um bom patrocínio é um dos grandes trunfos para quem produz eventos. Ele fortalece o orçamento, amplia possibilidades de entrega e abre espaço para experiências que dificilmente seriam viáveis apenas com a receita de ingressos.
Mas, depois do “sim” do patrocinador, surge a parte que mais gera dúvidas. Como formalizar, emitir notas e declarar os valores corretamente?
Essa etapa contábil e jurídica é tão importante quanto a negociação inicial. E, se ela não for tratada com cuidado, pode gerar inconsistências fiscais, ruídos com o patrocinador ou até prejuízos futuros.
Se você já se perguntou se precisa emitir nota, qual é o tipo certo de contrato, ou como comprovar as entregas, este artigo é para você.
Patrocínio, aporte, doação ou bonificação: o que muda e por quê
Antes de emitir documentos ou iniciar a prestação de contas, é fundamental identificar qual é a natureza da receita que está entrando no seu evento. Cada formato tem regras fiscais e contratuais próprias.
- Patrocínio: é o formato mais comum. Geralmente há contrapartida, exibição de logomarca, mídia, divulgação, ativações durante o evento etc. Nesse caso, é prestação de serviço e precisa de nota fiscal.
- Aporte: é um apoio financeiro ao projeto, sem contrapartida publicitária. Pode apoiar custos da produção, mas não envolve exposição de marca. Exige contrato, mas não gera nota de serviço se não houver publicidade.
- Doação: não há contrapartida, promoção ou qualquer benefício ao doador. Por isso, não há emissão de nota de serviço.
- Bonificação: é um incentivo financeiro pago ao produtor quando metas de vendas são atingidas. Não há contrapartida publicitária, portanto, não se trata de patrocínio, mas sim de uma remuneração variável por performance, prevista em contrato.
Se houver dúvida, lembre-se sempre da regra de ouro: se há publicidade, tem nota fiscal.
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Quando emitir nota fiscal para patrocínio
Sempre que o patrocinador receber algo em troca, por exemplo, exibição da logomarca, menção em materiais de divulgação, ativações no evento ou posts nas redes, o valor deve ser formalizado com nota fiscal de serviço.
A nota deve trazer:
- Descrição clara da cota. Por exemplo: “Patrocínio do evento X, conforme contrato nº XXXX, incluindo exposição de marca e entregas previstas.”
- Referência ao contrato, quando houver.
A formalização é parte essencial da segurança jurídica entre as partes e elimina ambiguidades sobre o que está sendo entregue.
#DicaSympla: Contrato de eventos simples: quais são eles e como produzir?
Tributação: como funciona em cada regime
Depois de entender o tipo de apoio recebido, o próximo passo é saber como esse valor será tributado. A regra não é complicada, mas exige atenção ao regime da sua empresa, é ele que determina a forma de cálculo e o impacto no financeiro do evento.
- Simples Nacional | No Simples, o imposto referente ao patrocínio é recolhido dentro do DAS, de acordo com o anexo aplicável. A chave aqui é classificar o serviço corretamente para evitar divergências na apuração.
- Lucro Presumido | No Presumido, o valor do patrocínio entra como receita tributável, compondo a base de IRPJ, CSLL, PIS e Cofins. Além disso, incide ISS, calculado conforme a legislação do município onde sua empresa está registrada.
- Lucro Real | No Real, a tributação acompanha o lucro efetivo do período. A apuração é mais detalhada e pode incluir créditos de PIS/Cofins, quando permitidos pela legislação. Isso exige organização e documentação precisa.
Atenção. Existe um ponto que vale para todos os regimes: o ISS sempre pertence ao município onde a empresa está estabelecida, e não onde o evento ocorre. Esse detalhe, simples, evita erros comuns no recolhimento.
Como emitir notas e organizar as finanças do patrocínio
Após formalizar o acordo, o foco passa a ser organização e transparência. Esse é o trabalho que diferencia um patrocínio pontual de uma relação que se repete a cada evento.
Um fluxo eficiente deve considerar:
- Emita a nota fiscal em nome do patrocinador, descrevendo a cota e as contrapartidas.
- Registre a receita corretamente na contabilidade.
- Organize comprovantes, pagamentos, notas e recibos.
- Mantenha documentação de mídia: prints, fotos, vídeos, capturas de telões, banners, redes sociais etc.
- Preste contas ao final, com um relatório visual e financeiro.
Quanto mais consistente for essa etapa, mais confiável você se torna aos olhos do patrocinador e maior a chance de continuidade no próximo projeto.
#DicaSympla: Recolhimento de impostos para eventos: entenda seus deveres fiscais
Transforme barreiras em oportunidades
Mesmo com contratos bem feitos e notas emitidas, alguns cenários costumam gerar dúvida. E são justamente eles que abrem margem para inconsistências fiscais. A seguir listamos os três mais comuns.
- Permuta com entrega de visibilidade
Troca de serviço por publicidade é, sim, patrocínio. Se uma empresa oferece portaria, segurança, iluminação ou qualquer apoio e recebe exposição de marca em troca, isso configura prestação de serviço. É necessário nota fiscal pelo valor de mercado, mesmo sem dinheiro envolvido.
- Pagamento por meio de produtora intermediária
Esse é um erro recorrente em produções maiores. Quando o patrocinador direciona o pagamento a uma produtora, a documentação precisa deixar claro quem presta o serviço publicitário: a produtora, o evento ou ambos. Essa definição evita que a responsabilidade fiscal “caia no limbo”.
- Patrocínio direto ao artista
Se o valor é destinado ao artista, ele é o responsável pela emissão da nota e pelos tributos. O produtor não deve assumir obrigações fiscais que não são suas. Essa distinção correta protege todas as pontas envolvidas.
Contratos e documentação: o que sustenta a relação com o patrocinador
A base de um patrocínio saudável é um contrato claro e uma documentação consistente. São esses elementos que evitam desalinhamentos, fortalecem a confiança e blindam o evento em auditorias.
Um contrato robusto deve incluir:
- Objeto e valor do patrocínio;
- Lista detalhada de contrapartidas publicitárias (ex.: posts, logomarca, telão, ativações);
- Regras de exclusividade quando houver;
- Cronograma de pagamentos e entregas;
- Direitos de uso de marca e imagem;
- Política de cancelamento ou devolução;
- Responsabilidades fiscais e quem emite a nota;
É importante que você se lembre: cada faixa de patrocínio tem suas entregas específicas. Mas todas precisam ser documentadas de forma rastreável.
4 boas práticas que elevam sua credibilidade
Depois que contratos, notas e entregas estão alinhados, a manutenção dessa parceria depende da forma como você organiza, comprova e comunica o que foi feito.
Esses são hábitos simples, mas que fortalecem sua reputação e deixam o evento preparado para auditorias, renovações e novos investidores. Tenha em mente as 4 boas práticas que podem te apoiar nessa organização.
- Guarde todos os contratos, notas e comprovantes;
- Faça prestação de contas visual e financeira;
- Crie uma pasta digital com todos os registros de mídia e ativações;
- Informe corretamente a contabilidade sobre o tipo de receita.
Quanto mais madura for essa operação, mais portas você abre. Tanto para novos patrocinadores, quanto para novos projetos e novas oportunidades de entrega.
Deu pra perceber que gestão de patrocínio vai muito além da negociação inicial, não é? Ela envolve clareza jurídica, organização financeira e, principalmente, uma postura profissional capaz de criar relações de confiança duradouras.
Se quiser continuar fortalecendo a parte financeira e operacional do seu evento, explore também nosso conteúdo sobre Conformidades fiscais para eventos no Blog do Produtor.
